Como se toda fragmentação do Brasil já não fosse o suficiente, no dia 25 de janeiro começa a 21ª edição tupiniquim do Big Brother, este amado e odiado reality show de origem holandesa — surgiu em 1999 — que é sucesso em diversos países, inclusive em telas brasileiras, quando estreou em 2002. A atração consiste basicamente em colocar dezenas de pessoas em uma
casa para que elas recebam julgamentos dos telespectadores, que têm o poder de eliminar os integrantes até sobrar o campeão e ganhador do prêmio de R$ 1.5 milhão — valor na nossa simpática nação.
Na terça-feira (19) os futuros vigiados foram anunciados e a fórmula de 2020 será repetida, misturando anônimos, celebridades e subcelebridades. Mesmo sendo originário de décadas anteriores, o programa ainda costuma gerar grande audiência e engajamento. Foi assim no BBB do ano passado, que acabou chamando mais atenção por ser das poucas atrações ao vivo e inéditas durante o começo da quarentena no Brasil, quando muitas
atividades foram paralisadas. E como quase tudo que dá audiência e engajamento proporciona polêmicas, com o reality show não é diferente. Nem um entretenimento comercial fica de fora do ódio das opiniões polarizadas, tendência deste Brasilzão. Oito ou oitenta. Amar ou odiar.
Cancelar ou exaltar. Isso, é claro, criou grandes figurões da nossa querida internet.
O intelectual com ar de superioridade
Admito que eu não sou telespectador assíduo da atração. Sei um pouco do que tá acontecendo e sendo debatido por meio de redes sociais ou homepages de portais de notícias.
Mas não me acho mais evoluído mentalmente por deixar de acompanhar a “casa mais vigiada” e nem tenho raiva de quem gosta do programa. Afinal, diversões são opções de cada um e devem ser respeitadas, desde que não cometam atos que prejudiquem a coletividade como acontece em produções sensacionalistas. Não curte BBB? É só ignorar. Simples. Basta fazer outra coisa. Qual o problema do povão querer observar algo para relaxar neste momento cheio de adversidades ? Um pouco de leveza é importante. Só é perigoso caso o ser humano seja viciado a ponto de fazer deste relaxamento a única coisa crucial da vida dele, pensando intensamente apenas nisso na maior parte do dia.
Podemos discutir sim a passividade e a falta de coletividade do brasileiro em relação aos problemas da atualidade. Debates a respeito do papel da mídia na construção de melhorias para a sociedade são essenciais. Mas isso é outra questão bem complexa que envolve outros pontos, até porque não é apenas no Brasil que há conteúdos que focam a diversão e o negócio.
Todo mundo tem algum tipo de entretenimento, seja na TV, internet ou nos espaços de socialização. Nem sempre o conteúdo consumido é considerado “cult” ou exige uma grande carga cultural para ser entendido. Será que ninguém nunca quis ver uma comédia mais relax ou um filme fácil de estilo infantil? Será que às vezes ninguém gosta de ligar a internet e seguir páginas engraçadinhas pra fugir da loucura dos debates malucos das redes sociais?
Será que ninguém depois de um dia ou semana de muito trabalho ou estudo optou por conversas sobre futilidades? Será que ninguém nunca praticou esportes para descansar a mente? Ninguém nunca parou pra ver um joguinho de futebol? É parte da existência o lazer e o entretenimento.
É possível sim viver com equilíbrio entre a preocupação e o relaxamento.
O brasileiro não vai ficar mais burro ou inteligente por acompanhar ou não o BBB. Acreditar nisso é arrogância e muitos dos sujeitos com esse ar de superioridade querem só uma desculpa para o menosprezo ao que é popular . Na rotina a vida segue normal para grande parte da população, que continuará vivenciando os problemas do cotidiano. O reality show não fará elas esquecerem de absolutamente todos os perrengues.
O futebol e o entretenimento não são culpados pelos problemas do país como alguns gostam de dizer.
A galera que leva a sério demais
Calma, é só um reality show. Não há necessidade de querer fragmentar o país, julgar o amiguinho (a), polarizar tudo ou odiar completamente alguém somente por causa das discordâncias de torcida de BBB. Rivalidade é parte do produto para conquistar audiência e engajamento. Até aí tudo bem. É do show. Mas é lamentável querer destruir o outro completamente por causa de preferências diferentes. Uns buscam ver “fadas sensatas” ou militantes, enquanto os demais querem só que os confinados façam arrancar risos. A graça e o
segredo do sucesso é exatamente a diversidade de pessoas presas praticamente no mesmo espaço. É um simples entretenimento e o brasileiro perdeu a capacidade de tratar um simples entretenimento comercial apenas como um simples entretenimento comercial.
Lógico que abordar questões sociais num programa de massa é importante. Incentivar participantes que toquem em assuntos sérios é direito do telespectador. Ter identificação com personagens diferentes também. Mas será só uma votação de Big Brother. Não é a definição dos rumos da conjuntura política nacional e da sociedade. Torcer, ficar feliz ou triste é do
entretenimento. Tiração de sarro idem. Só é importante colocar na mente que eleger ou eliminar BBBs não é a mesma coisa que escolher deputado, senador, prefeito, presidente, vereador ou qualquer líder que interfira diretamente no cotidiano. O que acontece lá provavelmente não definirá nada, absolutamente nada nos rumos da sociedade e nem mesmo vai significar alguma leitura política ou sociológica, porque é apenas um reality. Por isso, é necessário que parte dos internautas trate narrativas com mais leveza, sem excesso de
fanatismos ao achar que tudo o que está sendo filmado irá refletir na política e precisará de grandes teses sociológicas.
Portanto, bom entretenimento para quem vai assistir e também para aqueles que não gostam e optarão por realizar diferentes atividades.
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