Pintou um clima: Estreia no Jauclick

A necessidade de cidades resilientes e a responsabilidade compartilhada na adaptação a um novo normal climático
Pintou um clima

A expressão “pintar um clima” é frequentemente utilizada para descrever uma mudança de percepção em uma situação, seja ela positiva, negativa ou com segundas intenções. Neste contexto, a mudança é negativa e literalmente se refere ao clima.

As mudanças climáticas estão diante de nós. Se você não acredita, isso se torna um problema seu. Elas pouco se importam com sua opinião. Ficar na incredulidade é uma escolha, mas é certo que você será afetado por elas, provavelmente mais cedo do que imagina.

Agora, se você faz parte dos 8% dos brasileiros que ainda são terraplanistas, este texto não é para você. Afinal, são mais de 500 anos de ciência, e nenhuma argumentação conseguirá convencê-lo, tal  insensatez. É incrível pensar que alguém ainda acredita na teoria da Terra plana e, ao mesmo tempo, utiliza um sistema de posicionamento “global” – GPS em aplicativos como o Waze e o Maps.

Nos últimos 100 anos, a temperatura média do planeta aumentou em 1,5°C. A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera aumentou em mais de 50% em relação à era pré-industrial. As principais causas disso estão ligadas à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento provocado por queimadas, que liberam carbono armazenado na vegetação e no solo para a atmosfera.

O efeito estufa é um processo natural essencial para manter o planeta aquecido. Sem os gases de efeito estufa, que retêm parte da radiação solar na forma de calor, a Terra seria extremamente fria e as variações de temperatura entre o dia e a noite seriam insuportáveis, tornando a vida impossível para muitas espécies. No entanto, o excesso de emissões desses gases intensifica o efeito estufa, resultando no aquecimento global e nas mudanças climáticas.

Essas mudanças têm impactos significativos e generalizados nos processos meteorológicos e climatológicos em todo o mundo. Suas consequências incluem o derretimento de geleiras, a elevação do nível dos oceanos, a alteração de correntes atmosféricas e marítimas e o aumento da frequência e da intensidade de fenômenos meteorológicos extremos, como chuvas intensas, secas, ondas de calor e frio. Além disso, amplificam os efeitos de fenômenos naturais, como o El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico na porção equatorial.

O fenômeno El Niño e os efeitos do aquecimento global causado pela atividade humana resultaram em um recorde de desastres climáticos na América Latina e no Caribe em 2023, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma agência da ONU. O ano passado foi o mais quente já registrado na região, aliás no mundo. Uma anomalia severa na distribuição de chuvas causou secas e incêndios florestais, mas também inundações e deslizamentos.

Este ano, o El Niño, intensificado pelas mudanças climáticas, devastou o Rio Grande do Sul. Tudo está interligado: uma massa de ar quente extemporânea que se estabeleceu na faixa central do país, incluindo o interior de São Paulo, não permitiu o avanço da frente fria com as chuvas, que despejou todo o seu volume no estado gaúcho.

Em fevereiro de 2023, em São Sebastião, foram registrados mais de 600 mm de chuva em menos de 24 horas. Não havia registro de precipitação com essa intensidade no Brasil. No último final de semana de janeiro de 2022, foram mais de 320 mm nas cabeceiras e em toda a bacia hidrográfica do rio Jaú.

Naquela ocasião, o rio Jaú transbordou de seu leito menor encaixado e ocupou não apenas seu leito  maior sazonal, mas também seu leito maior excepcional, resultando em duas mortes e atingindo, segundo a Defesa Civil de Jaú, 864 residências e 139 estabelecimentos comerciais. O evento trouxe transtornos diretos ao cotidiano e prejuízos a aproximadamente 5.000 pessoas e comprometeu a mobilidade na cidade, afetando praticamente todos os moradores.

Enchente em Jaú - Pintou um clima
Enchentes de 2022 em Jaú

Rio Grande do Sul, São Sebastião, Jaú… uma única certeza: vai acontecer novamente, e não irá demorar. As precipitações futuras devem ser ainda mais intensas e as estiagens, mais prolongadas. Dados das estações meteorológicas da região metropolitana de São Paulo mostram que os dias com chuvas diárias acima de 100 mm mais que duplicaram nas últimas décadas, entre 2001 e 2020, em relação as décadas anteriores.

É crucial estarmos preparados. É preciso mudar os paradigmas e as diretrizes do atual modelo de desenvolvimento e o comportamento das pessoas. Ocupar encostas íngremes, construir nos fundos de vale, às margens dos rios, muitas vezes no próprio leito maior do rio, impermeabilizar excessivamente o solo, são atitudes pouco inteligentes.

Precisamos de cidades resilientes, de bacias hidrográficas florestadas e permeáveis tanto na zona urbana quanto no campo, capazes de absorver a água das tempestades, que serão cada vez mais intensas e frequentes. Soluções baseadas na natureza, como cidades-esponja, infraestrutura verde e azul, captação de água de chuva nas edificações, parques lineares ribeirinhos, praças alagáveis, jardins de chuva e outros, são essenciais.

O manejo da água urbana na cidade deve priorizar a infiltração de água no solo, diminuindo o escoamento superficial. A água que infiltra deixa de escorrer, atenuando as enxurradas, os alagamentos e as inundações no período chuvoso. Além disso, fica armazenada no solo, garantindo um maior fluxo de base, aumentando a vazão das nascentes e dos rios nos períodos de estiagem. É assim que a natureza funciona.

E você? O que pode fazer? A responsabilidade ambiental e hídrica é compartilhada. Cada um tem seu papel, desde cidadãos comuns até empresas, organizações e o poder público. Cidades resilientes e sustentáveis dependem da contribuição de todos. O manejo hídrico começa em sua própria residência. Assim como você é corresponsável pela destinação dos resíduos que gera, também é responsável pela água da chuva que cai em seu telhado e em seu terreno.

Pintou um clima - plantio de árvores

Áreas permeáveis nos quintais, captação e armazenamento de água de chuva, calçadas ecológicas e arborização – esses devem ser requisitos em todos os projetos de edificações urbanas. Quintais agroflorestais ornamentais e biodiversos, juntamente com a captação e armazenamento de água de chuva em todas as residências, contribuem não apenas com a drenagem urbana, mas também com a prestação dos serviços ecossistêmicos e com a diminuição da pressão sobre os mananciais de abastecimento.

As coisas não vão bem para a humanidade. Guerras, intolerância, refugiados, fome e emergências climáticas cada vez mais frequentes são apenas algumas das aflições que enfrentamos. Apesar do vasto conhecimento científico e dos avanços tecnológicos das últimas décadas, os problemas persistem. Talvez seja hora de aprendermos mais sobre o mundo natural. Compreender como a natureza funciona pode ser um caminho para nossa redenção como seres vivos, nos ajudando a encontrar soluções baseadas nela para construirmos um novo normal.

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Jozrael Henriques Rezende

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP); Doutor em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCar); Docente e Pesquisador da Fatec Jahu

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