Cine Denadai

“Ainda Estou Aqui”: minhas impressões, futuras premiações e minha volta ao cinema

Após 6 anos, voltei ao cinema e fui impactado por 'Ainda Estou Aqui', uma obra-prima nacional que emociona, denuncia e une excelência e popularidade.

Ainda estou aqui: Vários assuntos em um texto só e vou começar pelo menos importante, que é minha volta à uma sala de cinema depois de mais de 6 anos!

A última vez que eu tinha ido ver um filme nas telonas foi “Vingadores: Guerra Infinita” lá em 2018. Para alguém que já foi mais de 20 vezes em um ano no cinema, a média baixou muito. E confesso que nem me lembro qual filme assisti antes das aventuras do super-heróis que combatem o vilão rocha que estala os dedos.

E essa experiência foi ótima!

Voltar ao cinema para conferir um filme nacional de enorme sucesso foi válido demais. Até por que, um filme nacional não tem o principal empecilho que me afastou tanto dos cinemas, que é o excesso de filmes dublados. Se for para ver um filme dublado no cinema, eu prefiro esperar para ver de alguma outra maneira. Sendo assim, ponto para o cinema nacional!!!

Gostei também de ver a sala cheia. Era a primeira semana do filme em cartaz em Jaú, mas era uma terça feira. Também observei o público, apesar da maioria ser de pessoas acima dos 50 anos, e que provavelmente podem não ter as melhores lembranças desse período, também vi adolescentes. O filme tem classificação indicativa de 12 anos, pois contém algumas cenas de violência, mas com certeza nem perto do que acontecia nessa época.

Até por que, o filme não tem como foco principal a violência da ditadura militar, mas do impacto negativo que ela teve em diversas famílias. Apesar dos celulares tocando, o que é um absurdo, a sala se mantinha em silêncio, mas pude ouvir burburinhos de lamentação e nojo quando um retrato de Médici, presidente desse período em que se passa o filme, teve um foco. Boa Walter Salles! Sua intenção deve ter sido essa mesma.

Sobre o filme, podem ter certeza que todo o barulho corresponde a qualidade. Estamos diante de um dos melhores filmes nacionais dos últimos anos.

E mais, “Ainda Estou Aqui” consegue unir excelência e popularidade, fazendo com que o espectador tenha mais motivos para ir até o cinema.

A bilheteria já diz tudo, não é sempre que um filme que trata das mazelas e verdades da ditadura, consegue levar mais de 2 milhões de pessoas ao cinema. Ainda mais em tempos que a negação desse período pode ser ouvida por aí ou publicadas em redes sociais. Sinceramente, se você ainda se recusa a aceitar a verdade da ditadura militar brasileira, sinto lhe dizer, mas o seu lugar não é vendo esse filme. Mas fica a dica se você quiser dar uma chance para mudar de opinião.

Baseado em um livro de Marcelo Rubens Paiva, relatando sua infância no ano de 1970, temos o cotidiano de uma família de classe média alta no Rio de Janeiro, onde o patriarca Rubens Paiva, interpretado por Selton Melo, é sequestrado por militares devida sua ajuda aos familiares de exilados políticos. Divido o filme em duas partes, uma menor e uma maior. A menor, que corresponde a primeira metade do filme, temos Selton Melo como protagonista e o cara da um show. Seu personagem é cativante e simpático.

Lembrando que o livro retrata o pai do autor, então é compreensível ser retratado só o melhor de Rubens Paiva. Mas mesmo assim, ao que se propõem, temos uma excelente atuação. A outra parte acontece após o sequestro de Rubens. E aí quem entra em cena é Fernanda Torres…o filme é dela e o filme é ela! Interpretando Eunice Paiva, a esposa de Rubens, temos uma atuação delicada e sensível, bem condizente com a situação que a família vivia ao não ter notícias de Rubens.

As atuações é o ponto alto do filme. Até mesmo os coadjuvantes do filme conseguem ter seus momentos para brilhar. Principalmente duas das filhas de Rubens e Eunice. Destaco também a retratação da época, com carros e uma fotografia envelhecida. Há todo momento parecemos inseridos na década em que se passa o filme.

Qualidade não falta ao filme. Reconhecimento do público brasileiro também não. E nem da crítica especializada. E aí fica a pergunta: Qual a projeção para as premiações de “Ainda Estou Aqui”? Que fique bem claro, o filme já ganhou Melhor Roteiro no Festival de Veneza, que é um importante prêmio e uma importante categoria. Mas a premiação mais reconhecida e falada é o Oscar. E que fique bem claro, ganhar um Oscar não é sempre sinal de qualidade e não ganhar um Oscar está muito e muito longe de falta de qualidade.

Oscar é política. Oscar é audiência.

E sendo assim, quem aparecer mais, têm mais chances de ganhar. Mas coisas positivas estão acontecendo para a promoção do filme. E o povo brasileiro tem sua parcela contribuindo para isso. Podem ter certeza que o engajamento na foto de Fernanda Torres na página do Instagran da Academia foi notado.

O brasileiro abraçou a causa do filme e de Fernanda Torres. Indicado para Melhor Filme Internacional, pode ter certeza que será. Mas acho que para Melhor Atriz, acho um pouco mais difícil. Existe também a oportunidade de indicações para prêmios técnicos e aí Melhor Roteiro Adaptado tem sua chance de ser indicado.

Selton Mello e Fernanda Torres - Ainda estou aqui
Selton Mello e Fernanda Torres: “Ainda estou aqui” (Reprodução)

Ao ser indicado para Melhor Filme Internacional, teremos como principal adversário o filme “Emilia Pérez” que sinceramente ainda não sei se é uma produção mexicana ou francesa. Mas o filme vem forte demais. Suas 10 indicações para o Globo de Ouro provam isso. Além de contar com um ótimo diretor com sua contribuição para o cinema americano. Jacques Audiard é responsável pelos ótimos “Os Irmãos Sisters” com Joaquin Phoenix e dos franceses “Ferrugem e Osso” e “Paris, 13º Distrito”, que é meu filme preferido dele.

Mas, como eu disse, em uma premiação tudo pode acontecer, inclusive o imponderável.

Se eu fosse fazer um pedido para os votantes da Academia, lembraria eles que o Oscar 2025 cai no domingo de carnaval. E que uma premiação ao filme “Ainda Estou Aqui” faria nosso carnaval mais especial ainda. Confesso que são mínimas as chances de eu assistir a premiação nesse dia. Mas deixaria para celebrar a vitória de “Ainda Estou Aqui” na segunda e carnaval! O dia todo!!!

De mensagem final gostaria de deixar um convite, que inclusive é para mim. Não deixe de ver filme nacional.

O cinema brasileiro é ótimo! Não deixe para ir ao cinema somente quando o filme é bem falado ou só quando for filme onde a Glória Pires e o Tony Ramos trocam de corpo.

Sei que para quem mora no interior fica um pouco mais difícil, já que aqui a variedade é pequena para filmes nacionais. Mas assista no sreaming também. Pesquise sobre. Alugue filme nacional! Na boa, Jaú tem uma locadora de vídeo que eu sempre menciono aqui, que é a Shock Vídeo Café. Lá tem muita coisa de cinema nacional de qualidade e o Fernando entendo como poucos do assunto.

Valorize o que é nosso!

Boa sessão e até a próxima!

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André Denadai

André é jauense, xvano, palmeirense e apaixonado por cinema e ele escreve periodicamente para o Jauclick.

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