Romantizar a velhice é dizer que essa é a melhor idade, como veremos nos filmes abaixo, isso é bem relativo.
Classe social, aposentadoria, país, família e outras situações colocam divergências nesse jargão falado principalmente por pessoas que ainda não atingiram a terceira idade. Se é a melhor idade ou não, ainda não sei, mas sei que quero chegar até lá.
Indico aqui filmes de países diferentes para tentar mostrar como a velhice é em cada lugar.
Obviamente que um texto desses, sobre um filme ou outro é incapaz de mostrar a realidade dos velhinhos e velhinhas por aí. Mas é um exercício legal e que eu gostaria de fazer.
Terceira Idade como protagonista

Não sei se ao ler esse texto já terá saído um texto sobre cinema e comida. “Meu Bolo Favorito” é um filme iraniano que, por conta do título, achei que se encaixaria na temática alimentícia. Mero engano.
O fato de eu não ter o costume de ler sinopse fez eu atirar em um tema, mas acertar outro. Mas o que eu não errei foi na qualidade do filme, que trata de como é o envelhecer de uma viúva de mais de 60 anos de idade que começa a perceber a solidão até que comum das pessoas de sua faixa etária. Sua filha mudou de país, suas amigas moram longe e também estão em uma idade avançada dificultando a locomoção e o Irã. Sendo assim, Mahin, nossa protagonista, tenta encontrar por onde passa, algum que possa curar a sua solidão e encontra no taxista Faramarz essa pessoa.
Eu assisti esse filme querendo um final, mas encontrei outro. Se você gosta de reviravolta, vai se espantar com a que tem nesse filme. Quer dizer, não é muito de se espantar, já que o final do filme condiz muito com o que deve ser uma mulher no Irã após a Revolução Islâmica de 1979. Mahin cresceu em um país mais livre do que vive sua velhice.
O filme, que parece simples, incomodou as autoridades iranianas, tanto que o casal que dirige o filme, foi proibido de sair do país e condenados a 14 meses de prisão. Cinema bom é o cinema que incomoda esse tipo de autoridade.
Disponível em: Reserva Imovision.

Ao terminar de assistir ao filme “Longe Dela” senti medo. Não deve ser fácil em envelhecer e começar sentir os problemas dessa fase da vida. Mas e quando alguém que você ama é quem padece e você não pode fazer nada?
Nesse filme espetacular, Fiona, em uma ótima atuação da linda Julie Christie, começa perceber uma progressão dos sintomas do Mal de Alzheimer e junto com seu marido Grant, tomam a difícil decisão da necessidade de uma internação. Nos mais de quarenta anos de convivência eles nunca ficaram separados, mas irão precisar se adaptar a nova rotina. Fiona precisa se aclimar ao seu novo lar e Grant se acostumar a vida sem a sua amada. Muita coisa muda.
Algumas coisas ficam no ar, principalmente sobre o passado de Grant, que era um professor universitário, mas nada é revelado explicitamente, mas é perceptível. E na boa, as situações dentro e fora da clínica são tão bem exploradas que nada falta à trama. A ótima e delicada trilha sonora e o frio extremo do local acabam trazendo mais seriedade e tristeza a situação. O filme é triste, mas é ótimo.
Tudo é ótimo no filme! Maduro, real e comovente!
Disponível em: Shock Vídeo Café e acervo próprio

O próximo filme vem do Canadá. Poderia ser o ótimo “As Invasões Bárbaras” que é continuação do também excelente “O Declínio do Império Americano”, mas optei pelo espetacular “Testamento” do diretor Denys Arcand. A história de Jean-Michel, um aposentado que vive em um belo lar de idosos.
Sua rotina é simples, mas ela é interrompida com a chegada de ativistas políticos que protestam contra uma obra que julgam ser ofensiva aos povos originários do país. Esse tipo de “polêmica” é novidade assim como uma inesperada paixão pela administradora do local.
O filme é engraçado demais. Inclusive vou dar um spoiler aqui. O velho que se acha atleta, que só faz exercícios e se alimenta de maneira saudável, morre!
Além disso as atitudes que a administração do local toma em relação a obra não sai como o esperado causando mais situações hilárias. “Testamento” quase entrou na minha lista de melhores filmes de 2024.
Disponível em: Reserva Imovision.

“Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra” foi dos filmes que mais me emocionaram nos últimos tempos, assisti e escrevo sobre ele menos de quatro meses depois do falecimento do meu avô. Para quem se acostumou ter avô e avó por tanto tempo, não é fácil se ver sem a presença de pelo menos um deles. E nesse filme, um jovem preguiçoso e que gostaria de ganhar uma grana fácil, vê na doença terminal de sua avó essa oportunidade.
O filme é repleto de clichês, não há grandes surpresas e o desfecho é previsível. Mas a obra pega forte na emoção, ao focar o roteiro na relação com o neto, que a princípio pode parecer apenas de interesse, mas sempre houve carinho da parte dele com a avó.
Outro ponto extremamente positivo do filme é a interpretação da vovó que esbanja carisma. Há uma cena mais para o final em que ela está em uma cadeira de rodas tentando fazer carinho em seu neto, que se você não comover, é que já morreu por dentro. Um filme leve, gostoso de assistir, mas acho que vi em hora errada. Seria mais fácil daqui uns 10 anos, onde eu já estaria mais conformado em não ter um avô ou uma avó.
Aproveitem o filme e aproveitem seus velhinhos também.
Disponível em: Netflix.

Obviamente que, ao passar por indicações de diversos países, não poderia faltar um brasileiro. E “Kasa Branca” é muito brasileiro!
Passado em um bairro humilde do Rio de Janeiro, esse filme, assim como o anterior, também foca na relação entre neto e avó, mas nesse caso, eles só têm um ao outro. Dé e sua avó Almerinda, que é portadora de Alzheimer, vivem numa casa simples bem simples. Dé não consegue trabalhar, pois precisa dedicar quase que todo seu tempo para sua avó. Nesse contexto, o filme abrange temas muitos mais amplos que comente essa relação.
Apoiado pela comunidade e por dois amigos inseparáveis, Dé tem uma verdadeira epopeia para conseguir dar um filme de vida minimamente digno para sua avó. Aos mais jovens, vocês podem se identificar com esse filme, já que a participação especial e musical do MC L7nnon. Já aos mais velhos, não precisa se incomodar com isso.
O filme é mais profundo, tocando em assuntos como amizade, senso de comunidade, problemas do nosso sistema de saúde, preconceito, a ação da polícia nessas regiões menos abastadas e suas abordagens aos negros. Tem muita coisa para ver e pensar nessa obra brasileira elogiada pela crítica mundo à fora.
Disponível em: TeleCine.

Gostei de escrever esse texto. Assisti todos eles há pouco tempo. Estavam todos frescos na minha memória e são todos filmes de excelente nível. E falar sobre vovôs e vovós foi bem bacana. Pessoas da terceira idade sendo mostrados de maneiras diferentes em países diferentes. Foi legal mesmo!
Boa sessão e até a próxima