Entrevista com Tamires Frasson do Literocupa

O Blog faz sua primeira entrevista nesta nova fase aqui no Jauclick. 

E o bate-papo é com a educadora Tamires Frasson, uma das fundadoras do Literocupa, coletivo independente focado no segmento literário e que completa neste mês de setembro 05 anos de vida. 

Moraes: Olá Tamires, tudo bem? Primeiramente, parabéns pelo trabalho árduo na frente do Literocupa. Conta para nós como surgiu a ideia de se criar o Coletivo? Partiu de qual necessidade vista na cidade? 

Tamires Frasson: A ideia do coletivo se deu através da necessidade que sentíamos de ter lugares e espaços para compartilhar nossos trabalhos artísticos, principalmente poesia. Eu, como poeta, participava de saraus em outras cidades e nunca havia participado de um aqui. Sentia que também poderia (e deveria) ocupar os espaços da cidade. 

M: No começo em quantos vocês começaram e quais foram as ações imediatas para colocar o Literocupa literalmente em campo na cidade em 2.016? 

TF: No começo, minhas amigas Flavia e Ana Luiza embarcaram comigo nessa. Logo em seguida, foram surgindo as pessoas que queria colaborar. Chegamos a estar em 25 pessoas no coletivo. 

As ações imediatas, em 2016, foram a organização do primeiro sarau no Museu, e organização das ideias para os eventos que vieram posteriormente, traçando o objetivo do coletivo. 

M: O lema principal do Literocupa é “A Poesia Salva”! Mas o Literocupa é só poesia ou trabalha outros segmentos ou manifestações artísticas?

TF: Esse lema surgiu quando eu ia para outras cidades levar minhas poesias para expor em varal. Mas, não trabalhamos somente com a poesia. Outros segmentos artísticos foram compondo nossa história, já que sempre abrimos espaço para que artistas de diversos eixos pudessem/possam divulgar seus trabalhos. Daí, surgiram nossas viradas culturais independentes, onde já reunimos mpb, com rap, com pagode, com rock, com punk, com blues… 

M: Como surgiu a ideia da Biblioteca Comunitária? Ela está na ativa?  Como está e como aconteceu a formação do seu acervo? 

TF: A ideia da Biblioteca Comunitária surgiu quando nos vimos com uma grande quantidade de livros nos acompanhando nos eventos – e o porta-malas do carro ficando pequeno, rs. Eu havia me mudado para a minha casa aqui no Jardim Itatiaia, e vendo as crianças brincando na rua, não tendo uma praça, não tendo nenhum espaço para lazer, pensei em usar um espaço da minha garagem para dispor os livros. 

Para isso, precisaríamos arrecadar mais, para ter uma diversidade de gêneros literários, e também precisaríamos de estantes, mesas, cadeiras… lançamos uma campanha de arrecadação e em menos de 2 meses estávamos com a Biblioteca montada. Claro que o acervo foi crescendo com o passar dos meses. Antes da pandemia, abríamos aos sábados e desenvolvíamos atividades educativas e culturais com as crianças do bairro. Ela está ativa, com empréstimos programados. 

M: Em estudo do ano passado feito pela Retratos da Leitura do Brasil (link abaixo), o Brasil perdeu em quatro anos mais de 4,6 milhões leitores. Além de claro, a internet e as redes sociais provavelmente serem um dos motivos para essa queda, você acha que faltam políticas públicas de incentivo a leitura?  Se sim, em qual Poder Publico atual você vê essa defasagem (federal/ estadual/ municipal)? 

TF: Com certeza faltam políticas públicas, sim! Enquanto em outros países, os cidadãos têm incentivos como com auxílios para frequentarem teatros, cinemas e até livrarias, aqui vemos o desmonte da cultura, o que, obviamente, interfere diretamente na construção de novos leitores. Temos um presidente que foi eleito à base de fake News, com notícias falsas sendo divulgadas em redes sociais. As pessoas, que já não liam, acabam que não encontrando boas referências vindo de cima mesmo… O trabalho todo é interligado, né? Se há incentivo do governo federal, automaticamente as iniciativas começam a acontecer em âmbito estadual e municipal. Mas, claro que as iniciativas privadas e/ou da sociedade civil também influenciam e ajudam na construção de uma sociedade leitora, de uma sociedade mais crítica. 

M: Neste mesmo estudo, ele explica que o maior incentivador a leitura é o professor. Não precisa falar mais nada né Tamires. 

TF: Com toda certeza! E há muitos educadores trabalhando essa base, apesar de todos os desafios encontrados e do enorme abismo que há entre a educação pública e a privada – um exemplo são os acervos presentes nas escolas. 

M: Na coluna do Blog Rápidas e Rasteiras, fizemos uma nota sobre o projeto O Livro Livra junto com a Livraria Vamos Ler. Você quer explicar com mais detalhes este projeto?

TF: O Projeto teve início com a arrecadação de livros para o acervo do Centro de Ressocialização aqui de Jaú, onde também trabalho como professora. Lá, comecei a trabalhar a leitura, não só para a remição de pena, mas também como ferramenta para a reinserção social. Continuamos com as arrecadações e no dia 17, sexta-feira, teremos uma roda de conversa com a Cátia Lindeman, presidenta da Comissão de Bibliotecas Prisionais, para falarmos melhor sobre a importância desse projeto. 

Deixo aqui também o link com uma exposição virtual que está sendo montada com trabalhos dos educandos de lá. Em primeiro momento, aproveitei que estávamos trabalhando com o gênero anúncio publicitário e pedi para que eles criassem anúncios dos livros lidos. E o resultado foi bem legal.   

Acesse o link clicando aqui

M: Além do Livro Livra e da Biblioteca Comunitária, qual projeto do Literocupa está na ativa e os futuros para este ano ou 2.022?

TF: Este ano, devido ao contexto todo de pandemia, continuamos nos movimentando somente virtualmente, infelizmente. Este mês, para comemorar o aniversário do coletivo, teremos uma virada cultural virtual, com 3 dias de programação diversa, 17, 18 e 19: roda de conversa, sarau e live musical. 

Sobre a Biblioteca, como não voltamos a abrir e o acervo acaba ficando “parado”, talvez iremos transferi-lo para um local onde ele pode ser melhor utilizado. 

M: Tamires, muito obrigado por participar do Blog. Vida Longa ao Literocupa e espero que surjam mais outros coletivos, associações, projetos, ongs com esse ímpeto, persistência e perseverança que vocês têm e que pensam a Cultura como poder de transformação de sociedade. E, principalmente paciência, hehe. Conta pra gente quem é do Literocupa hoje, como está a equipe atual e manda uma mensagem a final a todos, por favor. 

TF: O coletivo acaba se transformando o tempo todo. Pessoas entram, pessoas saem, e tá aí a graça da coisa. Rs. Cada um ajuda na construção, traz um tijolinho. Hoje estamos em 12 pessoas. 

Eu que agradeço o espaço a oportunidade. Você faz parte disso tudo, Moraes! A minha mensagem final é que a gente não se acomode, que a gente não se sinta confortáveis com as situações que nos assolam no cotidiano. Todo mundo pode fazer um pouquinho. Que sejamos inconformados e que utilizemos essas inconformidades como combustível para a mudança que tanto queremos. É só à base de luta que as coisas acontecem. 

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