Retratos Fantasmas De Jahu! Memórias e desejos!

O Blog do Moraes fala do filme necessário Retratos Fantasmas e traça um paralelo com nossa cidade.

Hoje pedirei licença e entrarei na seara do nosso colunista André Denadai, que brilhantemente faz textos sobre cinema aqui no Jauclick, para falar de um filme brasileiro que assisti domingo passado – Retratos Fantasmas de Kleber Mendonça Filho.

Retratos Fantasmas é um documentário ambientado no centro do Recife. Ao longo de uma hora e meia, Kleber Mendonça reúne imagens de arquivo, fotografias e registros em movimento. O filme busca explorar a história do centro da cidade, contada a partir das salas de cinema que movimentavam a população e ditavam comportamentos.

Retratos Fantasmas é um dos pré-selecionados ao Oscar de Melhor Filme Internacional. Os indicados saem em janeiro.

Kleber Mendonça nasceu em Recife e é diretor de filmaços do cinema brasileiro contemporâneo. No currículo dele, clássicos como “O Som ao Redor”, “Aquarius” e “Bacurau”.

Cena do filme “Bacurau”.

Desde 2020, com o tratamento que estamos fazendo e por causa da pandemia, eu assisti muita coisa.

Confesso que as séries estão me dando preguiça, mas filme, eu estou devorando. E assisto de tudo: desde blockbusters, filmes mais “lado b” e estou assistindo vários documentários.

E sem pestanejar, neste ano de 2023, “Retratos Fantasmas” é o filme que mais me emocionou. E olha que de 2020 pra cá choro com filme comédia da Sessão da Tarde.

O nosso texto não pretende fazer uma resenha do filme. Mas ele me trouxe algumas lembranças e memórias.

A casa

Cena Retratos Fantasmas – Apartamento de Setúbal

Kleber Mendonça é o próprio personagem, narrador e relator das experiências no decorrer do filme.

O filme é dividido em três capítulos. O primeiro capítulo “Apartamento de Setúbal” e já me pegou forte. Ele prioritariamente fala da transição do seu apartamento no decorrer da sua vida. O apartamento de Setúbal foi cenário de alguns filmes seus.

E este capítulo já me pegou porque a lembrança afetiva que ele tem desta sua moradia por tanto tempo eu tenho muito na primeira casa que morei em Jaú.

Eu nasci aqui, ai fui pra São Paulo e com três anos meus pais se separaram e eu e minha mãe voltamos para Jaú.

Foto meu batizado – 1976 na Santo Antonio
Frente de Casa – Santo Antônio

De 1979 a 2000 morei na Rua Santo Antonio nº 87, na Vila Assis, na casa da Vó Carlotinha.

Um quarteirão para baixo do Hospital Amaral Carvalho, no cruzamento com a Rua das Palmeiras.  Minha avó morreu em 1996 e morava lá.

Marina, Marcelo Lima (in memoriam), Mariana, Helena, eu e Carolina
Helena, eu e André (in memoriam)

Mudamos de lá em 2000.

Eu adorava aquela casa. Cheia de cômodo. Sempre com gente. Casa de vó, né?

Bem localizada demais. Perto do centro, perto da minha escola e se continuasse morando lá seria perto do General, lugar que trabalhei de 2.002 até desde 2017.

Mas por circunstâncias da vida tivemos que vendê-la.

Essa casa nunca saiu da minha cabeça. É uma coisa muita louca que acontece, mas com certeza tem explicação. Todo sonho que eu tenho em que estou morando em alguma casa é nela que estou morando. Na casa da  Santo Antônio. Não tem outra casa nos nossos sonhos. Muito louco.

E por outras circunstâncias da vida, passo muito frente dela pelo fato de estar sempre no Amaral Carvalho. Outro dia parei na frente e apertei a campainha para ver como está a casa. Mas ninguém atendeu.

Na frente, estava um morador da Santo Antônio que continua residindo lá desde minha época. Uma figuraça que gosta de tomar um tetezin mais que os outros. E pela conversa, que foi igual a de 20 anos, ele ainda continua tomando seus tetês.

As mesmas conversas. Ele olhou dentro do carro e viu umas garrafas de entrega de bebida que ia fazer e os olhinhos do menino brilharam.

Vo Carlotinha, Tia Ana Célia, Tia Beatriz, Tio Caio (todos in memoriam)

A ex-residência do paciente Wilson Moraes virou Casa de Repousos de pacientes do Hospital Amaral Carvalho.

Uma hora volto lá e aperto a campainha de novo!

E o Centro? e o Cinema? E o jornal ?

No segundo capítulo, Kleber Mendonça chega no cerne do filme mesmo que são as transformações do centro de Recife e das salas de cinema. Mesmo o filme se tratando só de Recife, mas todo mundo que assistir vai remeter ao centro histórico da sua respectiva cidade e das salas de cinema da sua infância com aqueles projetores maravilhosos.

Eu fico imaginando se lá nos anos 70, houvesse uma política pública de preservação dos prédios históricos do Centro de Jahu, o que isso não poderia ter sido rentável para a cidade como ponto turístico e para os próprios donos dos imóveis.

Por mais que as discussões e movimentos começaram nos anos 80 com a Apuã e a  evolução no assunto tenha existido no meio dos anos 90 e no começo do século XX, com a criação da Lei de Patrimônio e da próxima existência do CONPPAC (Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Jahu) desde 2003, na gestão da secretária Lucy Rossi, se as leis tivessem sido efetivadas lá atrás , o nosso centro seria um dos mais bonitos do Estado.

Centro da cidade de Jahu nos anos 70 – Rua Major Prado

 

Década de 20: Rua Major Prado

Lembrando com a Marilu aqui, em Jaú existia o Cine São Geraldo e o Cine Jaú e ela remeteu a um cinema no bairro São Benedito em que o Padre Augusto Sani passava filmes e uma outra sala do Padre Serra em que ele exibia filmes aos domingos.

Eu claro, não peguei esses cinemas.

Cine Jaú na Edgard. Foto retirada do site Jaumais

Frequentava o Cine Municipal na Prefeitura mesmo. Assisti vários clássicos, lembro  da fila para assistir “Cangaceiro Trapalhão”, “Trapalhões na Serra Pelada”.

Existe uma memória afetiva em mim de acho ter assistido “Os Saltimbancos” também. Acho que o último filme que vi lá como cinema da cidade foi “Coração Valente”.

Após a abertura do Cine do Jaú Shopping, o Cinema Municipal ficou por um tempo obsoleto. Acredito que a  partir da gestão do prefeito Osvaldo Franceschi, o André Galvão, como Secretário de Cultura, tornou o cinema municipal com entrada gratuita. E acho que até hoje está.  Dany Kamada tocava a programação do cinema na época.

Outra memória aqui: nesta época eu tinha uma função administrativa e improvisava uma assessoria de imprensa da própria Cultura na época. Lembro que ia rolar um Festival de Cinema Italiano e mandei o material para a jornalista Priscila Donato do Comércio do Jahu.

Ela fez uma matéria sensacional sobre o Festival. Era demais ter essa expectativa de sair uma matéria no Comércio. Pegar o jornal físico e folhear ele. Eu fazia as matérias da Cultura e dos meus bares e era uma delícia acordar cedo e já pegar o Comércio!

Sabemos da era digital e seus benefícios mas um jornal físico diário e centenário como o Comércio do Jahu, com matérias de todos os assuntos caberia em uma cidade como a nossa.

Falando do Dany Kamada acima e mesmo com a saída do André Galvão, ele continua na equipe da Jaci Toffano que foi nomeada secretária. E começa a fazer algumas programações temáticas, com referências da Sétima Arte. E na época ele pegava alguns filmes na Shock Vídeo Locadora.

A Shock Video, do meu brother e parceiro de trabalho Fernando Lazzari, completou 25 anos agora e tem mais de 10000 mil títulos.  Passou por todas as fases do mercado de home vídeo.

O trabalho da Shock na era streaming é perseverante e resistente, tal qual os cinemas antigos.

A locadora se adaptou e há um tempo se transformou na Shock Video Café, um ponto de encontro de uma galera.

Ele estava me contando que o youtuber Felipe Neto estava procurando um filme de terror e não achava em nenhum streaming. E disse que se não existe em nenhum streaming o filme simplesmente deixou de existir? Muito louco né!

Voltando ao filme, Kleber Mendonça começa a falar dos cinemas de Recife. Das inaugurações de cinemas dos anos 70 que era um evento social da cidade.

Ele registrou, ainda acredito como estudante, uma conversa sensacional de um projetista de um cinema que fecharia as portas no começo dos anos 90. Parecia que o cineasta começou a fazer registros como se tivesse antevendo o futuro.

O nome do projetista era Alexandre. No registro, ele contou as histórias e estórias, mostrando a montagem das projeções e a expectativa do fechamento do cinema.

Alexandre solta “Vou fechar o cinema com a chave de lágrimas”.

Cena Retratos Fantasmas

Não me recordo o cinema que fechou mas o Cine São Luiz de Recife está aberto ainda e tal qual Jaú, está com um escopo público. Kleber ressalta “ Um cinema como esse ajuda a construir caráter”.

Como existe um cinema na cidade com os seus blockbusters, além de uma programação de entretenimento, o cinema público deveria aproveitar e colocar programações com referências históricas. Programação paralela.

Em alguns momentos, aconteceu e vira e mexe a gente percebe algumas programações. Mas o cinema público deveria pontuar mais nesse sentido.

Na gestão da Carolina Panini como secretária, com a falta de um teatro, o Cinema Municipal ganhou um palco maior em que acaba acontecendo algumas peças de teatro e shows musicais e ele está até com o museu já na entrada com as peças antigas e o projetor maravilhoso já na portaria do Cine.

Foto Divulgação Banda Griswolds no Cinema Municipal

A Lei Paulo Gustavo tem uma rubrica de manutenção e aparelhamentos dos cinemas públicos. É a hora dessa   gestão tornar o Cinema um equipamento público referencial e programação com conteúdo diferenciado.

O palco está melhor mas a projeção está bem aquém. Agora é a chance da Secretaria de Cultura dar um tapa de acordo no Cinema Municipal.

Transformações acontecem

O terceiro capítulo do filme continua falando das transformações do centro, de imóveis históricos se tornando outras atividades como igreja, supermercado, farmácias e assim vai.

É difícil segurar! Mudamos e mudamos e mudamos de casa.  Cine Jaú se transformou no Itaú. Cine São Geraldo na Telesp. Teatro Elza Munerato fecha.  Transformações acontecem. Prédios históricos maravilhosos foram demolidos antes da lei local de patrimônio. Outros continuam com fachadas mirabolantes e descaracterizantes. Pessoas importantes nos deixam sem registros de memórias.

No começo de dezembro correu o prazo da Lei Paulo Gustavo. A Lei é descentralizada. Sai dos cofres do Governo Federal e vai para todos os estados e municípios do Brasil. Quase que prioritariamente, ela trabalha a produção audiovisual.

Existem, claro, algumas pessoas que já produzem conteúdo audiovisual mas existe poucos profissionais. Tomara que a Lei faça com os profissionais peguem gosto pelo segmento.

Jaú tem memória para se registrar. É uma cidade tradicional, histórica e tem caldo e assunto para produções.

E que venha 2024

E aqui vamos nos despedindo antes do Natal.

Difícil pintar outro texto neste final de ano bem corridinho. Hehehehehe.

Tomara que 2024 todos possam realizar seus desejos. Que o Carnaval aconteça.. Que festivais aconteçam.

A discussão da sustentabilidade perdure (olha o calor que estamos passando em gente). Que tenhamos uma eleição municipal  tranquila. Que o Fla x Flu da política diminua. Que o racismo deixe ser pauta política e seja tratado como pauta humana. Que os novos produtores culturais e audiovisuais da cidade priorizem a memória vasta da nossa cidade.

Que o Dia do Betinho continue. Que aconteça mais uma edição do Tributo Patrões. Que Alexandre Therty, Gabriel da Delfos, Lourival do Culto Metálico nunca sejam esquecidos.

Tido e eu na última edição do Beatles Festival em 2.019

Que o Tido (Beatles Festival) seja muito homenageado no ano que vem como músico, empreendedor e principalmente como Pai. Tido arrebentou como pai e criou seus quatro filhos magistralmente.

Falando em Tido, ontem (16/12) assisti o show do Paul Mc Cartney na tv. O Sir Paul é a realização de todas as pessoas. Não como Beatle e maior artista desse mundo. Mas como uma pessoa que chega com 82 anos fazendo o que quiser e referência humana.

Quem não quer chegar aos 82 anos fazendo o que quer e realizando um monte de coisa relevante no mundo? Eu quero!

E que podemos olhar mais para as pessoas e heróis invisíveis que tem de penca ao nosso redor.

O filme Retratos Fantasmas é muito necessário.

O final. Os últimos cinco minutos e não vou citar nada porque é simplesmente maravilhoso.

Feliz Natal e um2.024 sensacional a todos!

Cena Retratos Fantasmas

 

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