Pra não dizer que não falei das árvores

Descubra como o desmatamento no Brasil afeta nossos biomas e o que podemos fazer para mudar
Área de floresta derrubada e queimada e vista na zona rural do município de Apuí, Amazonas. (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real/10/08/2020)

O título do artigo é uma alusão a música “Pra não dizer que não falei das flores”, conhecida por muitos como “Caminhando e Cantando”. A canção é de autoria de Geraldo Vandré. Ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção de 1968. Sua execução foi proibida durante anos, pois tornou-se um hino de resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição à ditadura militar brasileira.

A classificação da música, preferida do público, em segundo lugar, rendeu episódios de fúria popular contra os jurados. Décadas depois, o diretor-geral da rede de TV que organizou e transmitiu o festival, revelou em sua autobiografia que a direção da emissora recebeu ordens do comando do Exército para que a música não vencesse o festival…

Época de supressão de garantias e de direitos. Felizmente os tempos são outros e a única supressão que não parou até agora foi a das árvores. Esta acontece no país desde a chegada dos portugueses. Sem dó, nem piedade. Simbolicamente, dizem que o desmatamento no Brasil teve início com a primeira missa, que abateu duas árvores para montar a cruz do altar. São 524 anos de exploração desenfreada e irracional de nossos biomas e recursos naturais. Perdemos 85 % da Mata Atlântica original e agora estamos consumindo a Amazônia e o Cerrado, sem falar do Pantanal, que arde em chamas. Nos séculos passados não havia conhecimento científico, hoje em dia a ciência mostra os caminhos. Segui-los é uma escolha, mas depende de bom senso, boa
intenção, inteligência e, principalmente, juízo. As árvores brasileiras estão diretamente ligadas à nossa história. Aliás, o nome da nação, como é de conhecimento geral, foi emprestado de uma árvore conhecida como “pau-brasil”, que quer dizer “madeira vermelha como brasa”.

Flora Arborea Brasil
Flora Arbórea Brasil – Mata Atlântica

O Brasil possui a flora arbórea mais diversificada do mundo. Muitas espécies tiveram (algumas ainda têm) importância na vida econômica de diversas regiões. O pau-brasil na costa do nordeste, o jacarandá na região sul da Bahia, a imbuia em Santa Catarina, a araucária no Paraná, o palmito juçara na Serra do Mar paulista, a peroba-rosa no norte do Paraná e nas terras roxas de São Paulo, a aroeira no Mato Grosso do Sul. Recentemente a cerejeira em Rondônia e o mogno no sul do Pará. Infelizmente, a exploração dessas espécies, ocorreu, em sua maioria, de forma predatória. Isso levou ao desaparecimento de muitas delas nos locais onde eram mais abundantes.

As espécies da flora nativa vêm, há milhares de anos, interagindo com o ambiente e gerando, por meio da seleção natural, indivíduos resistentes e adaptados ao nosso meio. A exploração de nossos recursos florestais desprovida de critérios técnicos e de sustentabilidade acarreta impactos ambientais significativos, pois além do desaparecimento das espécies arbóreas, os representantes da fauna, que dependem destas espécies, também estão sumindo de seus habitats originais. Sem contar os problemas relacionados a erosão dos solos, a degradação dos recursos hídricos e a emissão de gases do efeito estufa decorrentes do desmatamento.

Atualmente no país, a maior parte da madeira utilizada é proveniente de plantios de eucaliptos e pinus, que são espécies exóticas. Uma parte é oriunda de florestas nativas com manejo sustentável certificado. O Brasil já possui milhões de hectares de áreas florestais certificadas, em florestas naturais e florestas plantadas. Estas certificações avaliam e monitoram os aspectos ecológicos, sociais e econômicos da operação florestal mediante verificação independente, feita por terceiros, garantindo o manejo florestal adequado. Isto não quer dizer que o desmatamento esteja sob controle, afinal, o próprio poder público, que deveria dar o exemplo, costuma consumir madeira de origem desconhecida para a execução de suas obras. É fundamental garantir que pelo menos os órgãos públicos, em todos os níveis, não utilizem madeira proveniente de desmatamentos ilegais da Amazônia ou de outras regiões do país. Primeiro o poder público dá o exemplo, em seguida cobra e fiscaliza a iniciativa privada.

Em São Paulo, a cobertura florestal vem se recuperando lentamente. O Instituto Florestal – IF, atualmente Instituto de Pesquisas Ambientais – IPA, estimou em mais de 5,67 milhões de hectares a área do estado com florestas e cerrados em 2020. Isso equivale a 22,9% do território paulista. Em Jaú, são 5.450 hectares de matas ante 68.692 hectares de área do município, o que representa 7,9% do total, percentual muito inferior ao do estado.

Originalmente a maior parte das terras do município era coberta com uma exuberante mata, chamada tecnicamente de “Floresta Estacional semidecidual”, cujas copas das árvores chegavam a quase 30 metros de altura. Uma das espécies comuns desta mata era a peroba-rosa, árvore símbolo de Jaú, presente no brasão da cidade. Além da peroba, jequitibás, cedros, guaritás, paineiras, louro-pardos, farinhas secas, guatambus, guaiuviras, cabreúvas, paus d’alho, figueiras brancas, ipês roxos e muitas outras compunham um diversificado dossel florestal que formava a paisagem.

Floresta Estacional semidecidual
Floresta Estacional semidecidual

Você já viu alguma destas árvores na cidade? Conhece a árvore plantada na frente da sua casa? As árvores da sua rua? Da praça do seu bairro? Elas produzem alimentos para os pássaros? Os canteiros são largos e grandes ou o concreto chega até o tronco? O porte e a arquitetura da copa são típicos da espécie ou você poda drasticamente a árvore com frequência?

Sabia que a emissão anual de gases do efeito estufa – GEE de uma família de classe média paulista (2 adultos, 2 crianças, 2 automóveis e 1 viagem aérea por ano) é estimada em 9,4 toneladas de CO 2 equivalente? Para compensar a emissão dos GEE dessa família hipotética é necessário plantar pelo menos 63 mudas de árvores por ano. Você já plantou árvores? Acho prudente começar.

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Jozrael Henriques Rezende

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP); Doutor em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCar); Docente e Pesquisador da Fatec Jahu

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