Eu não sou um especialista como André Denadai, mas gosto muito de cinema.
Cinema Nacional eu sempre procurei. De uns dez anos para cá bastante. Na pandemia e tratamento muito. E depois que o Griswolds formatou um show só com trilhas de filmes nacionais em 2.023, ai caímos de cabeça total no cinema do Brasil.
Domingo torci como se fosse jogo de futebol! E com muito mérito o filme Ainda Estou Aqui ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional. O primeiro do Brasil.
As nossa Fernandas foram as únicas atrizes indicadas para melhor Atriz.
Mais do que ganhar o Oscar de Melhor Filme Internacional, Ainda Estou Aqui foi indicado a melhor filme. Um feito inigualável em toda a América do Sul.
Mas queria falar no geral sobre o feito brasileiro, deste filme falando em português, o que só isso já era para nos encher de orgulho, independente do gosto, credo, posição social, política.
MEMÓRIA
Como todos nós sabemos, o filme é adaptado do livro de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice Paiva . Ele já tinha falado sobre o assunto no livro Feliz Ano Novo Velho.
Mas percebendo sua mãe com sinais de perda de memória pelo Alzheimer, Marcelo Rubens Paiva começou a colher informações da mãe
para escrever a obra.
A perda de memória da mãe fez com que Marcelo escrevesse um dos livros mais importantes para o resgate da memória do sumiço do seu pai Rubens Paiva pelo Governo Militar brasileiro. E um relato afetuoso sobre relações familiares.
O Ainda Estou Aqui trata de memória por todos os seus lados.
E ganha o prêmio maior do cinema em um país craque em não preservar sua memória.
FAMÍLIA
A pauta do Ainda Estou Aqui por mais que girasse em torno de uma época a do momento político brasileiro que foi o Governo Militar, é a história de uma família.
Por mais que as pessoas tentam colocar toda história no balaio da polarização ridícula política, a pauta da história do Ainda Estou Aqui é estritamente humana.
É a luta de uma esposa a procura do paradeiro do corpo do marido e dentro da desgraça, da tragédia tocar a vida e continuar sendo mãe para todos os seus filhos.
Imagina a cabeça da Eunice Paiva tendo que lidar com o problema do sumiço do marido e ainda continuar a ser mãe. Pensar na educação dos filhos no meio do caos que a ditadura militar fez com a vida dela.
“Uma mulher que deixou de ser viúva para ser mãe, enfrentou a tragédia, evitou o melodrama e que acreditava que a maneira de lutar contra a ditadura e o autoritarismo era por meio da educação e da justiça” Fernanda Torres sobre Eunice Paiva.
Imagina os atos da sua mãe, de toda a vida dela virarem relato importante em todo mundo?
Não consigo imaginar o que se passa na cabeça dos filhos ver a história da família sendo contada para o mundo inteiro. Vendo a mãe virar símbolo de resistência, persistência, resiliência e exemplo de vida.
ARTISTA BRASILEIRO
Após a vitória do filme, eu acabei acompanhando e vendo as comemorações dos próprios artistas do Brasil. Vi Betty Faria, Irene Ravache, Othon Bastos, Fernanda Montenegro entre vários outros com 60 anos ou mais de carreira.
Esses artistas presenciaram todas as dificuldades do Cinema Nacional. A censura do governo militar, crise financeira, fechamento da Embrafilme pelo Collor e presenciou as retomadas através da criação da Ancine, leis de incentivo e a volta de preocupações de governo que não se tinha como escopo a cultura e o cinema.
Eles viram de tudo e esperaram muito tempo para conseguir ver o cinema brasileiro no topo da maior premiação do cinema mundial.
Othon Bastos foi um dos protagonistas do Cinema Novo nos anos 60 e agora com 91 anos, depois de tanto tempo presencia o nosso cinema lá em cima. No topo.
Deve passar um filme maluco na cabeça deles!
CULTURA
O Ainda Estou Aqui já se transformou em um marco na cultura brasileira. Está cravado.
E não foi só no audiovisual. O filme é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva. O sucesso passa pela obra literária. O sucesso do filme mexe com o segmento da literatura.
A trilha sonora do filme resgata Tom Zé, Juca Chaves, Tim Maia, Gal Costa, Mutantes.
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O “É preciso dar um jeito” do Erasmo e Roberto virou hit. O sucesso do filme mexe com o segmento musical.
O filme mexeu com o caldeirão cultural!
GENTE COMO A GENTE
Já disse por aqui uma vez, mas a torcida que virou Copa do Mundo para o filme se deu muito pela postura dos dois protagonistas do filme.
O Selton Mello no Globo de Ouro parecia um de nós. Muita naturalidade. E a Fernanda Torres, o Brasil adorava e a postura dela em toda campanha, nas entrevistas, na abordagem com as concorrentes indicadas. Ela arrebentou.
Isso cria empatia total! Virou Copa do Mundo porque essa postura natural, meio “Gente como a Gente” aproximou demais.
NANDA GANHOU
É claro que alguns antis gostaram da derrota da Fernanda no prêmio de melhor atriz. Mas a minoria besta não põe reparo que a Fernanda Torres é o topo de todo o prêmio. Na sua atuação e na performance em toda campanha. O prêmio passa muito, mas muito por ela.
NANDA E FERNANDONA
Imagina a Nanda Torres chegando em casa essa semana e marcando um jantar só ela e a Fernandona. Tomando um vinho e tricotando os detalhes de tudo, desde o Globo de Ouro até o Oscar.
Os caminhos foram iguais e claro por causa da época, com intensidades diferentes. Fernanda Montenegro foi indicada ao Globo de Ouro. Foi indicada ao Oscar.
Cara, é muito roteiro de filme essa história de mãe e filha viverem momentos parecidos. Momentos dos mais importantes do segmento que elas vivem.
E de quebra, elas viverem a mesma personagem no filme que pontualmente virou o mais importante de todo o cinema brasileiro.
WALTER SALLES, O CARA
O diretor Walter Salles indubitavelmente é um dos maiores cineastas deste país. Central do Brasil e Ainda Estou Aqui estão no topo das maiores obras audiovisuais de todos os tempos no mundo. Sim gente, do mundo!
Tenham orgulho disso!
BRASIL PARA O MUNDO
Nosso filme brasileiro segue conquistando o mundo.
No Brasil, em sua 16ª semana de exibição, ocupa 650 salas, totalizando mais de 5,2 milhões de espectadores. Atualmente é o filme brasileiro de melhor desempenho após a pandemia.
Nos EUA, a arrecadação do filme passa de 5 milhões de dólares. E esse corre que a equipe da campanha fez para que o filme fosse assistido fez toda a diferença. 762 salas de cinema em um único final de semana
Na Europa, o filme teve desempenho impressionante em França, Portugal e Itália, países que registraram, respectivamente, US$ 1,5 milhão, US$ 712 mil e US$ 327 mil de arrecadação.
Esgotou sessões no Porto e em Lisboa e liderou as bilheterias portuguesas por quatro semanas desde seu lançamento, totalizando mais de 280 mil espectadores.
Ainda Estou Aqui também já chegou na Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Inglaterra, México, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
É o filme de maior bilheteria dentre os indicados de Melhor Filme Internacional e um dos filmes mais baratos dos dez indicados para Melhor Filme (45 milhões de Reais).
No dia 28 de fevereiro de 2025, após seu sucesso nos cinemas internacionais durante todo o mês, Ainda Estou Aqui já somava mais de 159 milhões de reais.
Só para os desavisados de plantão, o filme não teve dinheiro público e nem dinheiro de Rouanet. Filmes de longa metragem não podem ser objeto da lei de incentivo como Rouanet. Só documentários e filmes de curta e média metragem.
Ainda Estou Aqui ganhou:
- Oscar de Melhor Filme Internacional;
- Associação de Jornalistas Latinos de Entretenimento (LEJA): Fernanda Torres – Melhor Atriz
- Cinema for Peace (Berlim): Filme Mais Valioso do Ano
- Prêmios Goya (Espanha): Melhor Filme Ibero-Americano
- Festival Internacional de Roterdã (Holanda): Prêmio do Público
- Festival de Veneza (Itália): Melhor Roteiro
- Vancouver International Film Festival (Canadá): Prêmio do Público
- Mill Valley Film Festival (EUA): Filme Favorito do Público
- Miami Film Festival GEMS (EUA): Filme Favorito do Público
- Festival de Pessac (França): Prêmio do Público e Prêmio Danielle Le Roy
- Astra Film Awards: Melhor Filme Internacional
- Globo de Ouro: Fernanda Torres – Melhor Atriz de Drama
- Satellite Awards: Melhor Atriz em Filme de Drama
VITÓRIA DO CINEMA BRASILEIRO
Tem muita produção boa no cinema nacional. Muita coisa. Muita gente fala que não gosta do cinema brasileiro mas nem conhece. E nem procura e já exerce a Síndrome de Vira lata dizendo que a nossa produção audiovisual é ruim.
A repercussão dos prêmios e da qualidade do filme, e a quantidade de pessoas que assistiram o longa impulsionarão várias produções brasileiras. Todos os segmentos do audiovisual brasileiro vão tirar vantagem da vitória e da repercussão.

Aliás, acabamos de ganhar mais um prêmio internacional. O filme brasileiro Último Azul, dirigido por Gabriel Mascaro e protagonizado por Rodrigo Santoro venceu o Urso de Prata do Festival de Berlim.
O patamar mudou galera! Vai pipocar filme brasileiro no mundo.
OBRIGADO, AINDA ESTOU AQUI!