Sabe porque todo mundo chamava o Thirty pra tocar?
Porque além de ser um dos grandes contrabaixistas da nossa cidade, ele era um das pessoas mais agradáveis, ponderadas e tranquilas que eu já conheci.
Contrabaixista seguro, discreto, versátil e um ser humano com qualidade mas muito mas muito mas muito acima da média. Thirty não tinha tempo ruim e só agregava.
O texto abaixo tem algumas passagens em que passei com ele nas minhas andanças fazendo shows, baladas e eventos. Se estiver esquecendo alguma informação, de alguma banda, passagem, show etc e só nos avisar que incluímos no texto. É facinho!
Com vocês, Alexandre, o Thirty!!
Tal qual seu primo Betinho, o Thirty é Roberto – Roberto Alexandre Quagliato! Segundo informações, o apelido Thirty veio das chamadas na escola em que sempre ele era o número 30.
Thirty começou a tocar com 12 anos. Teve aula com Carlão, Claudião e Norberto Rock ´n Roll, um dos ídolos dele. Até imitou o Norba na arte de riscar o nome no contrabaixo.
A primeira vez que vi o Thirty foi lá por 1989 e 1990 na casa do Tchê baterista. Eu morava meio quarteirão dele, na Rua Santo Antonio, um quarteirão pra baixo do Amaral Carvalho. E lá entrei na casa dele e estava o Tche, Betinho, o Thirty e acho que o Marcelo Rett fazendo um som na sala de ensaio na casa do seu Euclides Salviato.
Depois disso, no comecinho dos anos 90, ele estava na banda Abstrato que tinha o Rett nos vocais, Tchê na batera e Marquinho Lippe e depois Evandro Barros na guitarra. O Abstrato, ledo engano, tocava rock nacional e já tinha visto na Praça Tancredo Neves, nas festas do Lions e se não me engano nas do Clube América também.
Mas comecei a fazer amizade com o Thirty na verdade quando ele se apresentava direto no Ar Livre com o Betinho. Inúmeras vezes, essa dupla rolava nos bares da cidade. Beto, Thirty e a bateria eletrônica.
VAMBORA E KAMANDUKAYA
Lá por 2.000, Beto havia saído do Estado de Shock e montado o Cadillac Valvulado, outra banda de rock. Mas o som brasileiro sempre andava junto e nos bares ele dava uma mesclada e sempre o primo Thirty estava nessas gigs. Lá por 2.003 e 2.004 Beto montou a Vambora e o Thirty era o baixista da banda.
Esse vídeo abaixo é a Vambora no lançamento do Subindo a Ladeira. Thirty está no timaço.
Paralelamente a Vambora, Alexandre Thirty fazia parte da Inter-Reggae, um projeto da Escola Internacional do José Paulo Toffano. Várias bandas e músicos da cidade tinham um intercambio com o Toffano. E o Inter-Reggae era um deles.
Em 1.999, o Inter-Reggae se transformou em Kamandukaya. Que nome massa de banda de reggae que senão me engano foi dada por ele mesmo.
Kamandukaya virou uma das referências do reggae pra Jaú indiscutivelmente. E a sensação que me dá no decorrer de toda a história do Thirty foi sempre a menina dos olhos de banda para ele.
Kamandukaya durou 13 anos! Eu cansei de fazer eles no General. Uma das dobradas que mais davam certo, que mais casava, se completavam era Kamandukaya x Matahare e Kamandukaya e Os Patrões.
Kamandukaya já abriu para Tribo de Jah e Planet Hemp aqui em Jaú.
“A maturidade e personalidade musical surgem dos metais e da composição de canções próprias, com caráter bem brasileiro e ares de protesto, como grito de indignação e exaltação à trilogia Rasta: amor, natureza e reflexão social.”
A formação clássica da banda era Lecio Trindade nos vocais, Evandro na guitarra, Rafael Nascimbem na bateria, Silvio na percussão, João Biazotto na gaita e trompete, Marquinhos no trombone. A banda ainda teve Edinho na percussão, Pedro Paulo Serignolli na guitarra e Leandro Vieira na bateria.
As músicas próprias do Kamandukaya eram sensacionais.
Um dia após a sua partida, Lécião, um dos grandes vocalistas e compositores da cidade falou:
“Ontem a dor me deixou mudo irmão, meu amigo, meu baixista Thirty. Você sempre será amado e jamais esquecido. Siga em paz, querido!
Thirty tocou um tempo no Nacional Kid também e lá por 2.012 ou 2.013 participou do Fita K7 projeto de blues rock encabeçado por Evandro Barros e que deu uma percorrida nos bares de Jaú e região.
Thirty também chegou a participar do Quarteto Jabaculê.
Em 2.013, no primeiro aniversário do General em que era sócio, junto com o Gabriel Atalla, preparamos uma reunião de músicos da cidade. Vários convidados.
No roteiro, o show era encabeçado por Adriano Milani e Betinho. Edinho na percussão. Os bateristas eram Fabio Saffi e Armandão. E no contrabaixo,Vermeio e Thirty. E dentre outros vários convidados claro.
Mas Thirty era das gig dos titulares.
Em 2.014 lá no General montamos um Tributo Paralamas com o Betinho e claro que Thirty participou. Time de responsa também!
No Festival de Inverno de 2.017 produzi dois tributos – o da Rita Lee e o da Jovem Guarda. No da Rita, três vocalistas – Bia Coletti – Erica Alonso – Camila Soufen. No Jovem Guarda, Arturzinho com participação especial de Magali Soave e Marcelo Caverna.
A banda base tinha Betinho, Adriano, Guto Campana e o Thirty. Lembro que chamava ele de “meu diretor” porque ele que comandava para mim os ensaios, repertório etc…
RASTA
Como disse no começo do texto ele era convidado para tocar em várias bandas e com vários músicos. Nos últimos anos, Thirty participou do In-Decentes, Tomarocks, Baião de 3, Rodrigo Crepaldi entre outros.
Rodrigo Crepaldi ultimamente estava fazendo vários bares com o Thirty e fez um belo depoimento:
“Sábado demos risada q vc iria tocar comigo de capacete pq queriamos estarmos juntos tocando, e nos divertindo e levando alegria para as pessoas como sempre, vc sempre foi meu alicerce nos palcos e fora tbm e agora … Qdo pensei em parar vc não deixou pq me levantava dizendo e me mostrando quem eu era. E eu acreditei em vc. Grato por ter vc comigo durante anos e pra sempre…”
Na Lei Aldir Blanc de 2.020, propusemos um projeto em que ele participou de uma live no Cinema Municipal juntamente com Adriano Milani, Betinho e Fabio Saffi. Confira:
https://www.facebook.com/culturajahu/videos/704284080520772/
Era o sub oficial do Norba no Matahare. Sempre estava fazendo com o Mata e na festa de 30 anos participou da banda de abertura com Adriano, Carlão e Edinho.
Norba foi professor e um dos ídolos do Thirty:
“ Vá em paz meu amigo!!! Obrigado pela amizade sincera e tudo que fez por nós e como eu dizia vc era meu Anjo da Guarda no Matahare “
O Matahare se pronunciou na sua rede social:
“Estamos devastados com a perda de quem foi muito mais do que um membro valioso e querido de nossa Banda!!! Alexandre Quagliato, Thirty, amigo, companheiro da vida toda!!! Que Deus possa confortar a família e aqueles que aqui ficam pois a dor de tamanha perda parece sem fim…”
No dia 31 de dezembro, participou do Reveillon no Vostro Eventos com a banda Lady Jane.
“Sonho de um menino moderno” Lembra Alexandre Quagliato ? No teatro Ayton Senna fizemos bonito ehm? ,lembra Edinho Calciolari? Nas minhas andanças nunca conheci alguém mais educado, sensível, sempre rindo de tudo como você Thyrty” Carlão Francischinni
Desde 2.019 estava com a nova “menina dos olhos” o Rasta La Vista, banda de reggae que fundou juntamente com Fernando Nah e Edinho Domingues.
O Rasta estava produzindo musica própria e com agenda ativa pela cidade e agendado para 31 de março a abertura do show do Triba Jah em festival de reggae em Botucatu.
Jorge Ackermann fará as datas que estão marcadas do Rasta La Vista no lugar dele. Jorge fez um depoimento bonito na sua rede lembrando que Thirty participou do inicio da sua carreira.
“Thirty, meu amigão! Sorriso sincero, bom de prosa, bom de viver e conviver. Parceiro de qlqr rolê, da glória ou da barca furada. Dos tempos do noturno lá do COC até os lançamentos das bandas irmãs. @bandarastalavista e @bandacidadaocomum ficaram órfãs. Essa foto foi minha primeira apresentação no Lounge do antigo @generalbar em 2013, 20kgs atrás.. Você ensaiou com a gente na casa dos meus pais. Não importava o espaço, você era parceiro. Minha eterna gratidão. O mundo tá ficando muito chato, os heróis estão indo embora. Meus sentimentos aos familiares e amigos”
Thirty atualmente estava participando de um tributo da Rita Lee com Dani Reis.
Neste carnaval, teve lançamento da banda V8. O quarteto é Juliano Alonso nos vocais, Pedro Paulo Serignolli na guitarra, Fabiano Boturi no contrabaixo e Rafael Nascimbem na bateria.
O quarteto estreou fazendo uma bela homenagem a ele. Veja na foto:
VÁ EM PAZ THIRTY
Thirty era primo de primeiro grau de Betinho. As mães eram irmãs e eles eram absurdamente amigos.
Ambos morreram com 47 anos. Parceiros na vida e na música.
É triste dizer e ao mesmo tempo um alento saber que provavelmente eles estejam lá em cima juntos e fazendo um som.
Como no post da partida do Spilari, tal qual ele, a perda do Alexandre pai, do filho, marido amigo é irreparável. E a perda do artista Thirty para a cidade é enorme.
Essa homenagem é uma vírgula do legado do Thirty. Uma vírgula.
Um abraço especial ao seu pai, sua irmã, sua esposa Elaine e seu filho Davi. Eu espero que de todo o coração o seu filho saiba o quanto o pai dele foi deveras importante na vida das pessoas a sua volta!
Alexandre, o Thirty, o Grande!