Cine Denadai

Fogo nos racistas – parte 2

Explorando o Racismo no Cinema: Uma Jornada delicada e necessária

Escrever textos sobre filmes que tocam no assunto racismo é extremamente delicado. Primeiro por que há receios de eu estar contribuindo para algo, mas na verdade posso não estar acrescentando nada ou só piorando a situação.

Também há o fato de que eu só sei sobre o assunto na teoria através, já que, não sofro na pele o que os negros sofreram e ainda sofrem no seu dia a dia. Mas, estou sempre aberto a ouvir o que for necessário para diminuir meus exemplos ao tocar no assunto.

E ver filmes desse estilo acabam contribuindo para isso também.

Esse é meu terceiro texto focado no assunto (já teve um Fogo nos Racistas e também o texto sobre o filme “Till”), e espero poder escrever mais, desde que esteja contribuindo para algo.

No primeiro texto que eu escrevi sobre o assunto, algo me incomodou, já que percebi que minhas referências sobre esse estilo eram unicamente de filmes americanos e o racismo é um problema mundial e muito frequento no Brasil.

Mas eu não tinha nada para escrever de filmes nacionais, mesmo podendo encontrar o assunto em “Cidade de Deus”, por exemplo, mas resolvi passar.

E foi numa conversa com meu amigo Wilson Moraes que ele me indicou “M8 – Quando a Morte Socorre a Vida”.

Um filme nacional passado dentro de uma universidade pública no Rio de Janeiro, mais especificamente no curso de medicina, onde um jovem negro, pobre e cotista, acaba percebendo que todos os corpos usados para os estudos de anatomia são de negros que morreram como indigentes. Seus questionamentos são simples, mas não menos importantes.

Por que só negros? Por que só negros morrem como indigentes? Cadê a família dessa pessoa? Convivendo com os olhares tortos de seus colegas de classe e com essas questões, Maurício resolve ir atrás de solucionar essas angústias com a ajuda de mães negras que têm filhos desaparecidos.

Uma boa pedida para ilustrar um pouco do racismo no Brasil. Disponível em: Netflix.

O meu interesse pelo assunto tem uma pessoa como referência: O reverendo Martin Luther King Jr. Já escrevi isso em outra oportunidade e sempre digo, esse é a melhor pessoa que já pisou nesse planeta!

Suas batalhas pelos direitos civis começaram na cidade de Montegomery no estado do Alabama, em 1955. Uma cidade extremamente racista e segregada.

Seu primeiro ato foi incentivar aos negros não usarem o transporte público para ir até o centro da cidade ou trabalhar. Indo a pé ou com caronas. Li isso em sua biografia e era possível imaginar a situação de um negro que não podia subir em paz em um ônibus.

Mas foi ao assistir ao filma “Uma História Americana” (não confundam com o também excelente “A Outra História Americana”, que também poderia estar nessa lista”), que tive mais noção da situação.

Ver foi melhor que imaginar. Mas ver e imaginar está longe de sentir o que os negros estavam passando e ainda passam.  O filme é muito motivador, essa atitude com o boicote aos ônibus foi o primeiro passo para que mais tarde os negros pudessem frequentar os mesmos parques e restaurantes dos brancos, pudessem ter ambições profissionais com igualdade na hora de serem promovidos e até de votar.

O filme também toca em algo muito importante e que as vezes acaba desapercebido por nós, já que, por estarmos inseridos em uma sociedade racista, muitas vezes não questionamos ações e atitudes racistas de nossa parte ou vinda de nossos amigos, familiares e desconhecidos. Inspirador e obrigatório!

Disponível em: Amazon Prime.

Eu leio e acompanho muito sobre cinema e de vez em quando alguns filmes surgem, mas demoram para ficarem disponíveis para serem assistidos e um exemplo disso é o filme “Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi” de 2017. Cotadíssimo para o Oscar do ano seguinte, eu tinha que ver esse filme de qualquer maneira, mas só assisti esse ano.

E poderia estar facilmente na minha lista de Melhores Filmes de 2023, inclusive vou fazer um texto sobre o assunto no fim do ano, mas achei mais pertinente esse filme estar nessa lista, já que não pretendo repetir filmes em listas diferentes.

Os traumas vividos na guerra entre um branco e um negro dão o tom do roteiro. A cidade torce o nariz para quem é negro e para quem se solidariza com o mesmo. O negro é filho de um funcionário de uma fazendo. O branco é o filho do fazendeiro.

Um filme extremamente pesado e com um pré-clímax violento, mas real, infelizmente.

Disponível em HBOMax.

Indicar esse filme é chover no molhado, já que a maioria deve ter assistido, mas nunca é tarde para lembrar que ele toca muito bem no assunto racismo. “Django Livre” é um dos melhores filmes entre os ótimos títulos que Quentin Tarantino já fez.

Mostrando a epopeia de Django, um negro escravizado que tem sua liberdade comprada por um europeu branco e que vão em busca de libertar a esposa de Django, mas não mediante a pagamento, mas sim através de vingança contra seus antigos proprietários.

Jamie Foxx, Christoph Waltz e principalmente, Leonardo Di Caprio estão espetaculares!

O filme é violento e engraçado ao mesmo tempo, uma marca de Tarantino. A busca de vingança de Django é pano de fundo para mostrar como os negros escravizados eram tratados nas fazendas de algodão do sul dos EUA na metade século 19.

Há de se destacar também Samuel L. Jackson no papel de um negro racista. É um filme que abusa de em deixar os personagens bem caricatos dando um tom mais ácido nas críticas sociais e isso acaba deixando o filme ainda melhor!

Se não viram, vejam!

Disponível em: Shock Video Café, Netflix, Amazon Prime, TeleCine e acervo próprio.

Para encerrar, indico aqui um filme que estaria fácil em uma lista top 10 que já vi em minha vida. “Eu Não sou o Seu Negro” baseado no livro inacabado do escritor negro James Baldwin e em uma carta que ele deixa para seu agente explicando as ideias do seu livro.

Carta essa que é lida pela voz de Samuel L. Jackson. “Remember This House” traça os caminhos conflituosos das questões raciais nos EUA após a morte de três líderes negros americanos: Martin Luther King Jr, Malcom X e Medgar Evers, esse último eu confesso que não conheço quase nada.

Mas o primeiro, acredito que não seja novidade o quanto eu gosto e o segundo, apesar de lutar pela mesma causa que MLK, acaba usando de métodos que eu tendo a discordar, como a violência.

Os três foram mortos antes dos 40 anos e num curto intervalo entre 1963 e 1968.

É um documentário extremamente complexo e muitas vezes, propositalmente desconfortável sendo assim, difícil de expressar o que se está vendo em palavras, mas com certeza é o filme mais importante dessa ou de qualquer outra lista de indicações sobre o assunto.

Disponível em GloboPlay e Reserva Imovision.

Espero ter contribuído com essas dicas. Que elas tragam questionamentos em nossas atitudes e na busca de igualde.

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André Denadai

André é jauense, xvano, palmeirense e apaixonado por cinema e ele escreve periodicamente para o Jauclick.

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