Por essas semanas viralizou (não gosto desse termo) uma trend (esse termo também é ridículo) de imagens geradas por Inteligência Artificial onde pessoas se transformavam em desenhos com características dos personagens das animações do Studio Ghibli. Também fiz minha imagem, na verdade recebi ela do chefe do meu blog o senhor Cesar Mantovanelli. E ficou muito boa por sinal. Mas apesar do sucesso nas redes sociais, a trend não foi vista com bons olhos pelo pessoal do Studio Ghibli, já que há um minucioso trabalho por trás das ótimas animações lá produzidas.
Produzindo animações desde a década de 1980 o Studio Ghibli tem sede no Japão e é responsável por inúmeras obras de arte do cinema. Tem como características traços simples e feitos a mão da maneira mais tradicional possível para se produzir uma animação. Outras duas coisas interessantes caracterizam as animações, uma delas é que geralmente serão tratadas questões culturais e folclóricas do Japão. As animações não se rendem as imposições ocidentais mantendo-se fiel as tradições milenares de seu país. E outra coisa, é que nem sempre veremos animações para crianças. Um gênero que é geralmente voltado para os baixinhos e baixinhas tem no Studio Ghibli filmes maduros e bem tristes, tratando de assuntos como morte e guerra.
Para se ter uma ideia do processo de criação dessas obras, postei em minhas redes sociais um trecho de 4 segundos da animação “Vidas ao Vento” que demorou intermináveis 15 meses para ser feita. Nessa cena, um dos personagens cruza uma multidão e ali, cada pessoa tem personalidade própria, se movimentam para direções diferentes e esboçam reações faciais únicas.
A complexidade da cena se dá pela grande quantidade de detalhes que ela contém. Obviamente que com Inteligência Artificial, essa cena seria mais fácil para ser feita.
Ainda não assisti “Vidas ao Vento”, mas o filme é dirigido por um dos fundados res do Studio Ghibli, principal diretor da casa e um dos grandes críticos da utilização de Inteligência Artificial na produção de animações Hayao Miyazaki. Para ele isso seria um “insulto a vida”.
A princípio essa animação seria a última do diretor, mas ainda bem que não foi. Após essa produção dessa ele embarcou por longos sete anos e em 2023 entregou outra obra prima chama “O Menino e a Garça”. Esse eu assisti e tenho na minha coleção. Esse é o único filme do Studio Ghibli que eu tenho.
E Hayao Miyazaki produziu tantas outras coisas de altíssimo nível e bom gosto. Provavelmente, sua maior obra prima seja “A Viagem de Chihiro” de 2001. Eu lembro do sucesso dessa animação quando ela foi lançada. Eu trabalhava na locadora, mas apesar do sucesso de crítica, essas animações nunca tiveram um grande apelo junto ao grande público.
Comercialmente, para uma locadora de médio porte como a que eu trabalhava, seria um risco investir mais de R$ 100,00 à época e ver uma animação japonesa atracada nas prateleiras. Essa questão de não ser tão popular pode ter sido um dos fatores que fizeram eu demorar para conhecer as animações do Studio Ghibli. Apesar da fama e qualidade só assisti “A Viagem de Chiriho” em 2024. E realmente a animação é ótima.
Essas duas animações já citadas foram as que deram os dois Oscar de Hayao Miyazaki, mas ele tem outras animações maravilhosas. Apesar de eu ter dito que muitas vezes o Studio Ghibli produz animações que não são voltados para o público infantil, outras duas obras primas tem um tom mais leve. Estou falando das aventuras “Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar” e “Meu Amigo Totoro”.
Os traços característicos de Hayao Miyazaki são tão tradicionais que você não percebe mudança em filmes produzidos com diferença de 30 anos. Tanto “Meu Amigo Totoro” como “O Menino e a Garça” tem suas imagens bem parecidas. É difícil perceber evolução ou qual filme é mais antigo ou mais novo, mas não que isso seja ruim. Muito pelo contrário. A proposta é ser assim e continuar assim.
Outra animação de Hayao Miyazaki que eu assisti também está entre seus grandes clássicos, mas essa eu esperava gostar um pouco mais. Em “Castelo Animado” temos uma história mais complexa e por ter sido o primeiro filme do Studio Ghibli que eu assisti, acho que menosprezei a obra e esperava algo mais simples. Eu deveria rever.
Mas antes de rever “Castelo Animado” quero assistir “Princesa Mononoke” e “Porco Rosso: O Último Herói Romântico”.
Mas nem só de Hayao Miyazaki vivem as produções do Studio Ghibli e para mim, o melhor filme ali feito é um que já citei em meus textos. Foi quando escrevi sobre filmes de guerra que indiquei “Túmulo dos Vagalumes”. Uma obra prima única. Poucas coisas são tão boas quanto esse filme. Eu diria que é impossível não se emocionar com essa animação dirigida pelo já falecido Isao Takahata.
A animação fala dos terrores da Segunda Guerra Mundial através dos olhos de dois irmãos. Fantasia e realidade se misturam na inocência de presenciar um dos momentos mais tristes do século passado. Esse filme já se caracteriza como um dos voltados para o público adulto. Criança não tem maturidade e nem merece ver o que acontece nessa obra.
Fiz esse texto não só como indicação de filmes, mas como uma maneira de apresentar as animações produzidas pelo Studio Ghibli.
Conhecer o Studio Ghibli só pela brincadeira que viralizou nas redes sociais é muito pouco. Deixo aqui um convite para também assistir as animações ali produzidas.
Entender que por trás das imagens produzidas em 2 minutos e dois clicks, existe muita gente fazendo um trabalho árduo e muitas vezes não tão reconhecido. E é fácil achar essas animações para serem assistidas.
Você encontra ou na Shock Vídeo Café e também na Netflix. Nos outros streamings eu desconheço se há algo.
Boa sessão e até a próxima.