Nelson Motta ligou para mim – Nelson Metralha

O Blog do Moraes traz o segundo conto em que o oitentão Nelson Metralha recebe uma ligação do oitentão Nelson Motta! Fatos e personagens reais da música misturadas por alguns personagens fictícios.

20 de março de 2.024

Desculpem a demora  para voltar a escrever para vocês. Sou um velho procrastinador por excelência.

E no final das contas, acabei comemorando em família meus 80 anos. As sessões me causaram reações inusitadas e Carminha ordenou que não fizesse nada.  O famoso “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Como dito no primeiro texto, completei 80 anos em 03 de fevereiro. Aliás, meu primeiro relato está no final deste segundo…

Voltando, como fiquei pianinho sob a ordem de Carminha, recebi várias ligações.

Uma delas foi de outra referência minha – Nelson Motta! Nelsinho vai completar 80 agora em maio. É contemporâneo de trabalho, mas após os anos 90 que afinamos nossa relação.

Antes disso, nossos encontros eram muito mais profissionais do que de amizade que foi construída nos últimos 20 anos. Aquela coisa meio “véio chama véio”.

Houve algumas comparações entre eu Metralha e ele Motta. Por mais que a minha verve seja de rock, acho que a afinidade por transitar em vários gêneros musicais e culturais fez com que houvesse comparações entre mim e ele.

Mas não da para comparar. Nelson Motta é grandioso, é pica das galáxias!

Nelson foi empreendedor, produtor de festival, de musicais, de vários programas inovadores de música e entretenimento, um dos criadores das trilhas sonoras de novela e como cereja de bolo,  compôs Como Uma Onda, Dancin Days, Perigosa, Certas Coisas, Bem que se quis e mais uma penca de música.

Nelsinho me ligou no dia 04 de fevereiro. Ficamos mais de uma hora em uma  vídeo chamada. Dentre vários papos, um dos mais latentes foi o documentário A noite que mudou o Pop lançado na Netflix dias antes.  Que filme!

Comentávamos sobre a monstruosidade em termos de qualidade de todos os participantes. Era emocionante sacar a construção de cada participação. A sensação em vários momentos era uma aproximação de humanidade, humildade daquelas lendas. Parece que eles desceram para o mundo real e se tornaram humanos que nem nós. Principalmente na preleção do Bob Geldof, idealizador do  do Live Aid meses antes.

Mas a conversa sobre o We Are The World com o Nelsinho nos remeteu há uma lembrança de 50 anos.

16 de Setembro de 1.974

Estava eu no Aeroporto Internacional do Galeão quando cruzo com Nelsinho que estava no saguão junto com o nosso reizinho Roberto Carlos. Eles estavam em uma situação de espera de voo .

Eu não. Eu estava esperando a chegada do Jackson Five. Jackie, Tito, Jermaine, Marlon e Randy e claro Michael, que tinha apenas 16 anos em 1.974. A banda faria  uma turnê no Brasil em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília.

No Rio, o grupo faria dois shows (19 e 20 de setembro), ambos com abertura da tradicional da Escola de Samba Portela.

O Roberto Carlos já era o nosso rei! E ninguém deu bola para o Roberto. Todo mundo foi atrás dos meninos americanos e Nelsinho ficou isolado com o Roberto em outro canto do Galeão.  Furdunço total.

No final das contas, os shows do Rio de Janeiro não aconteceram no dia previsto. Um atraso nas aparelhagens de som fizeram com que os shows acontecessem só no dia seguinte. Teve quebradeira generalizada e por ai vai. Sorte que eles arrebentaram no dia seguinte e a turma sossegou.

Confira aqui

Essa história de 1974 me remeteu uma memória de quando eu vi a primeira vez o Michael Jackson aparecendo no Jackson Five.

Me deu um frio na barriga, um negócio esquisito. Mandei um “minha nossa senhora”, que moleque é esse. Ele vai ser o maior do mundo.

Ele foi! Até o doc da Netflix mostra muito da grandiosidade dele mas a história dele remete a tristeza né.  E eu e Nelsinho lembramos de Gil.

“Bob Marley morreu

Porque além de negro era judeu

Michael Jackson ainda resiste

Porque além de branco ficou triste”  (De Bob Dylan a Bob Marley, um samba provocação · Gilberto Gil)

No final, resistiu pouco!

1.974 – que ano!

Após essa passagem de 1.974, eu e Nelson começamos a lembrar dos discos deste ano daqui do Brasil. Conversa nostálgica de oitentões mesmo.

O Elis e Tom  que acabou de gerar um documentário especial da gravação. O Sinal Fechado do Chico que tinha composições de vários compositores brasileiros – Tom, Nelson Cavaquinho, Dorival Caymmy, Gil, Caetano, o clássico Sinal Fechado do Paulinho da Viola e o “Acorda Amor” tem um tal de Juninho Adelaide. Na verdade, Juninho era o próprio Chico que usava este pseudônimo para driblar a censura.

Ai lembramos  do Gita do Raul que parece uma coletânea dele de tanto sucesso. A minha madrinha Rita Lee grava o primeiro disco com o Tutti Frutti – Atrás do porto tem uma cidade. Arnaldo Batista grava o Loki. Que discaço. Lembramos do documentário Loki, que é um dos documentários mais bonitos da história da música brasileira. O Tábua de Esmeralda do ainda Jorge Ben.

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E lembramos do Ednardo que lançou o Romance do Pavão Mysteriozo  tendo a faixa “Pavão Mysteriozo” que dois anos depois seria tema da novela Saramandaia, da Rede Globo.

Nelson Motta, junto com Daniel Filho foi um dos criadores dos discos de trilha sonora de novelas. Em 1.969, a novela  Véu de Noiva foi a primeira a ter disco das trilhas, vendendo 70 mi cópias pela gravadora Philips.

Lembramos   do final do Secos e Molhados em 1.974. Do meteoro que foi. Do nosso encontro no histórico show do Secos no Maracanãzinho.

Lembro do Moracy do Val, empresário deles, que teve a proeza de viabilizar o contrato da banda com a Continental, comentando que  aquele show de  fevereiro de 74 foi de número 369 em um ano.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1e0241kl73o

E claro que lembramos da vitalidade do atual Ney Matogrosso aos 82 anos fazendo shows.

Citei para ele de  um amigo meu das antigas aqui da capital – João Kurk.

Ele era uma figura emblemática nas casas noturnas e pubs que executavam o classic rock. Foi do Rock Memory, Rockover e estava no Mr. Kurk quando “morreu dormindo” em 11 de agosto de 2.017.

Mas conheci ele nos anos 70 porque ele era de uma banda progressiva paulistana chamada Terreno Baldio.  A banda era formada por Kurk nos vocais e flauta, Roberto Lazzarini nos teclados, Joaquim Correia na bateria, João Ascensão no contrabaixo e Mozart Mello nas guitarras.

Eles eram da Continental e lembro dele comentar que a gravadora “esqueceu a gente” e de todos com o fenômeno Secos e Molhados.

Me poupe do vexame de morrer tão moço… 

Finalizando a chamada de vídeo com Nelsinho Motta, voltamos a falar do Ednardo, lembramos do hit do compositor em que ele fala:

“Pavão misterioso

Nessa cauda

Aberta em leque

Me guarda moleque

De eterno brincar

Me poupa do vexame

De morrer tão moço

Muita coisa ainda

Quero olhar” (Pavão Mysteriozo – Ednardo)

Ai lembramos de pessoas que foram embora rapidamente  como Big Boy, Imperial, Torquato Neto, Leila Diniz, Elis, Renato Russo, Cazuza, Raul, Chorão, Cassia Eller, Gonzaguinha e por ai vai.

Nelsinho consternado soltou:

“Putz Metralha, imagina eu com 81 anos dirigindo o show de 80 anos da Elis o ano que vem?”

E desligamos a chamada de vídeo.

A vida é um sopro mesmo e a letra do Ednardo é demais – “Me poupe do vexame de morrer tão moço”.

Após a ligação, puxei a Carminha e falei para ela:

Que delicia não meu amor, você olhar pra trás e perceber que fez tanta coisa  relevante”

Nelson foi relevante para vários movimentos culturais, produções de festivais diversos, carreira de muitos artistas, para o entretenimento como o todo, compositor de clássicos da MPB, escritor nato!

Repito, Nelson Motta é pica das galáxias!

Bom, até o próximo bate papo! Prometo que procrastinei menos.

Quer saber, não vou prometer nada.

Confira o primeiro texto do Nelson Metralha

O Dia que eu conheci o Rock …foi quando ele morreu  – Nelson Metralha

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Nelson Metralha

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Nelson Metralha é roqueiro e escreve periodicamente para o Jauclick

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